Avaliação dos fatores epidemiológicos e espaciais associados às incapacidades físicas da hanseníase ao término do tratamento
DOI:
https://doi.org/10.26694/repis.v11i1.6316Palavras-chave:
Brasil, Sistema de Informação Geográfica, Serviços de saúde, Hanseníase, Incapacidades físicasResumo
Introdução: A identificação de fatores clínicos, epidemiológicos e operacionais associados ao desenvolvimento de incapacidades físicas (IF) pós-tratamento da hanseníase é essencial para qualificar estratégias de prevenção e cuidado, reduzir o impacto socioeconômico da doença e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas. Diante disso, este estudo avaliou os fatores associados à presença de IF ao final do tratamento em um cenário hiperendêmico. Metodologia: Estudo retrospectivo com 495 pacientes de hanseníase residentes em Cáceres, Mato Grosso (MT), com dados obtidos no Escritório Regional de Saúde. Foram analisadas variáveis epidemiológicas, clínicas e geoespaciais. A análise dos dados foi realizada por regressão logística, considerando significativo p-valor < 0,05. Também foi realizada uma análise do fluxo espacial entre o local de residência dos pacientes e os serviços de saúde responsáveis pela notificação. Resultados: Entre os 247 registros com dados completos, os fatores independentes associados à IF ao término do tratamento foram: idade (odds ratio [OR], 1,04 [1,02–1,08]; p<0,01), classificação operacional multibacilar (OR, 2,69 [1,08–6,71]; p=0,03) e presença de IF no diagnóstico (OR, 5,10 [2,07–12,55]; p<0,01). Na análise geoespacial, observou-se centralização do atendimento em um serviço de referência, com distância média de deslocamento dos pacientes de 2,09 km. Esse serviço concentrou 76,5% das notificações; os demais 23,5% foram notificados pela atenção primária à saúde (APS). Conclusões: Os achados sugerem detecção tardia e evidenciam a necessidade de fortalecer a APS para o diagnóstico precoce e segmento sistemático de IF, já no momento do diagnóstico de forma a reduzir as taxas de IF ao término do tratamento.
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