Páthos e disposições fundamentais
As Tonalidades Afetivas na Fenomenologia de Heidegger
DOI:
https://doi.org/10.26694/pensando.vol16i37.5768Palavras-chave:
Tonalidades afetivas, Páthos, Heidegger, AristótelesResumo
O presente artigo propõe uma análise fenomenológica das tonalidades afetivas no pensamento de Martin Heidegger. Em oposição à abordagem tradicional das ciências ônticas, a fenomenologia heideggeriana investiga a relação entre os afetos e o Dasein como condição essencial para a experiência de mundo, explorando a maneira pela qual o Dasein se revela em sua manifestação imediata, ontologicamente disponível ao estar-afetado. Para acessar o significado de Stimmung em Heidegger, o estudo rastreia a origem do termo grego páthos em Aristóteles e a apropriação feita por Heidegger em suas preleções de 1924, culminando na analítica existencial desenvolvida em Ser e Tempo. Em seguida, o artigo explora como a temática dos afetos foi reorientada na virada de Heidegger, especialmente em sua radicalização da história do ser, conforme exposto nas preleções de 1929 e em Contribuições à Filosofia:do Acontecimento Apropriador. Conclui-se que Heidegger, a partir de sua leitura de Aristóteles, reconheceu o páthos como base de sua hermenêutica, vendo-o como o solo originário do logos, que dinamiza o Dasein em sua existência histórica e mundana. Em sua fase tardia, Heidegger reorientou a analítica dos afetos, compreendo que estar disponível aos afetos é um encontro fundamental com o seer, que alterna entre retraimento e doação. No âmbito do pensamento onto-historial, Heidegger trouxe discussão do estar-afetado para um campo mais originário, analisando a estrutura da atmosfera existencial em que o seer é historicamente afinado por uma tonalidade afetiva fundamental (como o tédio profundo que caracteriza a era da maquinação) e aberto como horizonte de manifestabilidade dos entes na totalidade.
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